Terra
Julia sentia prazer durante a relação sexual, mas, para chegar ao orgasmo, precisava de uma mãozinha, como um pouco de sexo oral. Ficava um pouco frustrada, pois gostaria de conseguir com a penetração pura e simples, mas não se preocupava muito.
Depois de engravidar, percebeu mudanças interessantes. “Eu me sentia mais relaxada e parecia que tudo acontecia com mais intensidade. Acho que foi no segundo mês que cheguei lá pela primeira vez durante o ato propriamente dito.”
A explicação é tanto psicológica quanto física. Durante a gestação, a mulher perde o medo de engravidar (afinal, já está grávida), sente-se poderosa. Por outro lado, aumenta a irrigação sanguínea na região genital, que fica mais sensível, e o efeito pode ser o sentido por Julia. Nem todas têm a mesma sorte, já que o período é permeado por ambiguidade: a associação da ideia de maternidade e santidade pode atrapalhar as coisas para a grávida e para o parceiro. A sensibilidade pode ser percebida como excessiva por outras, traduzindo-se em dor.
Prazer e dor, de fato, são muito próximos. Se muitas têm medo da dor do parto normal, outras literalmente têm orgasmos com ela.
Muita gente considera gozar no parto uma lenda, mas a questão é tema de uma conferência com profissionais de saúde feminina para discutir o tema que começa hoje (20 de outubro) em Nova York. Isso mesmo: a associação automática que as mulheres fazem entre parto normal e dor acabou, pelo menos para as que sentem êxtase ao dar luz ao filho.
A conferência vai durar oito semanas, e a cada uma receberá um profissional diferente. Organizada por Sheila Kamara Hay, membro do conselho da ONG Choices for Childbirth (Escolhas para o Parto), o evento atrai mulheres de várias partes do mundo que buscam por esse parto prazeroso.
Uma das palestrantes confirmadas é Debra Pascalinaro, diretora do documentário Orgasmic Birth (Parto Orgástico), lançado em 2008. (http://www.orgasmicbirth.com/). O filme trouxe novamente o fato à discussão, apresentando vários depoimentos de educadores, obstetras, ginecologistas sobre o assunto, incluindo o de mulheres que já passaram por essa situação.
O assunto não é totalmente desconhecido no Brasil, o que pode ser visto pela participação no documentário do obstetra brasileiro Dr. Ricardo Hebert Jones, conhecido pelo histórico de 1.500 partos em 15 anos de carreira.
Segundo Jones, não existe técnica ou curso para atingir o orgasmo ao parir, mas existem alguns fatores influentes que podem ser discriminados. “Orgasmo durante o nascimento só pode ocorrer quando todas as variáveis de segurança, afeto, tranquilidade e equilíbrio emocional estiverem garantidas”, pondera. “Desta forma, o orgasmo será a conseqüência deste ambiente de positividade, e não sua busca objetiva”.
A explicação científica para essa sensação tem como base a produção hormonal. “A ocitocina, produzida na hipófise, por muito tempo foi pensada como um hormônio exclusivo da gravidez”, explica a médica da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Carolina Ambrogini. “Mas isso mudou com a descoberta de que a mulher libera o hormônio quando tem um orgasmo nas relações sexuais”.
A função da ocitociona no parto é produzir as contrações, e depois atua na ejeção do leite materno. Por isso, de acordo com a Dra. Carolina, algumas mães ficam agitadas ao amamentar. “É um hormônio bem interessante porque tem o papel de fazer as pessoas se conectarem: liga a mulher a seu parceiro e posteriormente ao filho.
Quanto à interferência da dor no processo, a especialista explica que em alguns casos, dependendo da sensibilidade e do circuito neural de cada uma, a dor pode contribuir para o orgasmo, mas o caso mais comum é o êxtase após a ejeção do bebê.
A consultora perinatal Sandra Moreira de Almeida, por exemplo, relata que sentiu êxtase ao dar à luz a seu filho. “Estava grávida de gêmeas, e quando a segunda nasceu, meu corpo inteiro vibrou de uma forma que nunca experimentei antes”, relata. “A sensação de libertação é como a do orgasmo sexual, porém, indescritivelmente mais profunda, abrangente e intensa”.
LENDA?
Apesar de todas as evidências, o assunto ainda enfrenta resistências entre os médicos. Um exemplo é a ginecologista e obstetra Marisa Teresinha Patriarca, que vê o parto orgástico como “uma lenda”.
Essa negação, para Dr. Carolina, tem dois motivos. “Existe um certo preconceito porque a mulher, na hora do parto, não pode remeter a nada sexual”, pondera. “Outra razão possível é o desconhecimento dos amplos funcionamentos da ocitocina”.
PÓS-PARTO
O orgasmo também é um assunto delicado no período pós-parto, quando é preciso que as mulheres tenham cuidado ao buscar a satisfação sexual. O livro Orgasmos: como chegar lá, da sexóloga Jenny Hare, ressalta que, nessa época, é importante alguma abstinência sexual. Esse tempo gira em torno de 42 dias, para que o útero se recomponha e o desconforto da área genital diminua – no caso das que passaram por um parto normal.
Mas o prazo pode variar, segundo Jenny. “Se tiver sido lacerada durante o parto ou se precisou de uma episiotomia, os tecidos dentro e em volta da vagina precisarão de bastante tempo para se recuperar do trauma e podem demorar mais seis semanas para sarar”, explica.
Caso a mulher tenha desejos nesse período, mas esteja sensível, a dica é optar pela masturbação ou pelo sexo oral. A sexóloga aconselha a esperar que a vontade volte, e quando isso acontecer, sugere que a nova mãe estimule-a excitação com amor, pensamentos eróticos e fantasia.
Fonte: http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?edt=34&id=137887
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