Foto: Eduardo Queiroga |
Assistentes, curiosas, parteiras do mato, cachimbeiras,
fazedoras de emergência... São muitos os termos utilizados para denominar as
representantes de uma ocupação considerada por muitos a mais antiga do mundo:
as parteiras. E o ofício ganha agora uma exposição fotográfica itinerante que
homenageia e retrata a tradição das parteiras de Pernambuco.
Desde 2008 o fotógrafo, jornalista e professor universitário
Eduardo Queiroga acompanha os projetos do Instituto Nômades, o “Saberes e
Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco” e o “Saberes e Práticas das
Parteiras Indígenas de Pernambuco”. De lá para cá ele captou milhares de imagens. Dessas, foram
selecionadas 160 fotos que irão compor exposição, catálogo e projeção e que vão
passar pelos municípios pernambucanos de Palmares, Caruaru e pelo território
indígena Pankararus, que abrange áreas dos municípios Tacaratu, Petrolândia e
Jatobá, no Sertão do São Francisco.
“Parteiras - Um Mundo pelas Mãos” retorna a estas três localidades
onde o inventário ocorreu para "devolver" as imagens aos seus
portadores e ao público em
geral. A exposição é composta por 30 fotografias impressas em
tecido no formato 100 x 150
cm e será montada em local público, de referência para as
parteiras, na forma de um grande varal. O conceito da exposição passa por algo
muito presente no cotidiano das parteiras: o pano costuma estar nos varais, nos
quartos, faz as vezes de porta ou de divisória nas casas, acolhe o
recém-nascido e abriga as mães. Haverá também a projeção em telão de 120 fotos e a distribuição
gratuita, nos municípios visitados, de um catálogo com as fotografias da
exposição e textos acerca do universo abordado. Também foram produzidos 4.500
postais colecionáveis.
“As fotografias foram estimuladas por uma vontade de aprender
sobre quem são as parteiras tradicionais. Quem são essas mulheres? Como e onde
elas vivem? Mas não busquei uma resposta definitiva”, afirma Eduardo Queiroga,
responsável pelas imagens deste projeto que conta com o incentivo do Governo do Estado
através do Funcultura Independente.
Foto: Eduardo Queiroga |
Apesar dessa liberdade no olhar, Queiroga diz ter trabalhado com
alguns limites impostos por ele mesmo e pelo meio onde circulou. “Não poderia
pensar na propriedade documental, no sentido de retratar fielmente ‘uma
realidade’. Acredito na fotografia como uma linguagem encharcada de
subjetividade. Poderia contar essa história de muitas maneiras, mas o fato de
existirem tantas possibilidades e subjetividades não impede que a fotografia
traga informações importantes para o registro dessa cultura”.
Além de promover a exposição, o projeto também pretende
possibilitar a multiplicação e a continuidade por meio de um acervo que será doado para cada município,
composto pelas fotos expostas impressas em papel fotográfico com suporte em
PVC.
“Cada imagem, cada texto que integram a exposição e o catálogo
carregam elementos das outras imagens e textos, mas trazem também uma
perspectiva singular que modifica a visão do todo, como um caleidoscópio, que a
cada volta vai formando uma figura diferente a partir de elementos da
anterior”, diz Dan Gayoso, coordenadora do Instituto Nômades.
A exposição terá duração de sete dias em cada localidade.
Como surgiu o projeto
Foto: Eduardo Queiroga |
A exposição “Parteiras - Um Mundo pelas Mãos” foi concebida como
um desdobramento de um projeto maior, que inclui os inventários “Saberes e
Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco” e “Saberes e Práticas das
Parteiras Indígenas de Pernambuco”. Os projetos, desenvolvidos entre os anos de
2008 e 2011, utilizaram a metodologia do Inventário Nacional de Referências
Culturais (INRC), criada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), para identificar e registrar os saberes e as práticas de 225
parteiras de seis municípios e três etnias indígenas de Pernambuco como parte integrante do
patrimônio cultural do Brasil.
Além de “devolver” os resultados às parteiras e aos municípios que
participaram da pesquisa, a equipe do Instituto Nômades pretende que a ação contribua
com a valorização e o reconhecimento dos saberes e práticas das parteiras tradicionais, bem como para a
promoção da diversidade cultural brasileira. “Muitas pessoas acreditam que o ofício das
parteiras está em
extinção. O que não corresponde à realidade. Os inventários
mostram que ainda existem muitas parteiras em atividade, inclusive em grandes
metrópoles... Em muitos lugares está havendo o retorno do parto domiciliar”,
explica Dan.
À beira do rio
De acordo com Paula Viana, enfermeira obstétrica e parteira, a
assistência ao parto e ao nascimento no Brasil não é homogênea. “Embora a
maioria ocorra em ambiente hospitalar, partos domiciliares assistidos por
parteiras tradicionais ocorrem no país, principalmente nas regiões Norte e
Nordeste”, diz.
Mas engana-se quem pensa que apenas dificuldades financeiras ou
de locomoção fazem com que parteiras sejam solicitadas. Mulheres em busca de
uma vivência de parto mais respeitosa também têm buscado o serviço das
parteiras tradicionais. E o grupo responsável pelos registros tem um exemplo
vivo disso. Elaine Müller, antropóloga e professora universitária, engravidou
pela primeira vez enquanto acompanhava as ações para elaboração do inventário
“Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco”, o que
possibilitou seu contato com as parteiras. Após certo receio, seguido de
reflexões e confiança, Elaine optou em ter seu filho com a ajuda de uma
parteira. “E eu pari lindamente Lourenço, com a ajuda de Prazeres (parteira),
meu marido, minha mãe e a doula Dan”. Depois, ainda vieram Francisco e
Magnólia, nascidos em um sítio, à beira do rio.
Exposição “Parteiras – Um Mundo pelas Mãos”
Realização: Instituto Nômades
Incentivo: Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura
Apoio: Grupo Narrativas do Nascer/UFPE e Grupo Curumim - Gestação e Parto
Apoio em Pankararu: Prefeituras Municipais de Jatobá e Tacaratu
Apoio em Palmares: Prefeitura Municipal de Palmares e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmares
Apoio em Caruaru: Prefeitura Municipal de Caruaru, Associação Caruaruense de Ensino Superior - ASCES e Associação de Parteiras Tradicionais de Caruaru
Cronograma das exposições:
Etnia Pankararu
Abertura: Sábado, 30 de março - às 17h30
Visitação: 30 de março a 05 de abril
Local: Praça da Igreja Santo Antônio, Aldeia Brejo dos Padres -
Jatobá
Palmares
Abertura: Sábado, 20 de abril - às 18h
Visitação: 20 a
26 de abril
Local: Praça Doutor Paulo Paranhos, Centro - Palmares
Caruaru
Abertura: Sábado, 04 de maio – às 18h
Visitação: 04 a
10 de maio
Local: Hall da Prefeitura, Praça Teotônio Vilela - Centro
Vale lembrar que dia 05 de maio é o Dia Internacional da Parteira
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