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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mães promovem amamentação coletiva em espaço cultural de SP

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/maes-promovem-mamaco-em-espaco-cultural-de-sp

Grupo de 50 pessoas protestou contra proibição de amamentar as crianças no Itaú Cultural, que já reviu a regra

Adriana Caitano

Mulheres com seus filhos realizam um ''mamaço coletivo'' no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, durante a tarde desta quinta-feira (Nelson Antoine/Fotoarena)

Mais de 50 mães reuniram-se na tarde desta quinta-feira, em São Paulo, para defender o direito de amamentar seus filhos em público. A amamentação coletiva, ou “mamaço”, era para ser um protesto contra o Itaú Cultural, que havia proibido uma mulher de dar leite do próprio seio ao bebê enquanto visitava uma exposição. Mas o ato tornou-se um evento artístico, com o apoio da própria empresa, e um pedido de desculpas.

Em março, a antropóloga Marina Barão, 29 anos, amamentava Francisco, então com um mês de vida, na galeria do espaço e foi abordada por uma monitora. “Ela disse que era proibido amamentar no local e pediu que eu o fizesse na enfermaria. Eu argumentei que estava à vontade ali e ela insistiu”, conta. Marina comentou o caso no Facebook e recebeu o apoio de mulheres de todo o país.

O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, justificou-se na própria rede social e depois procurou Marina para explicar o ocorrido. “O erro foi na orientação dada à monitora. Era proibido alimentar-se no local, mas não estava claro que bebês eram exceção”, detalha. O ocorrido, diz Saron, serviu para mudar as regras do espaço.

Ato - Desde o constrangimento pelo qual passou Marina, as mães estão liberadas para amamentar seus bebês no Itaú Cultural e terão o local adaptado a suas necessidades, como o aumento da temperatura do ar condicionado e atividades artísticas especiais. “Tenho um filho de oito meses e minha mulher quase me matou ao saber o que houve, mas está tudo esclarecido”, brinca o diretor do espaço.

Mesmo com o problema resolvido, mulheres que defendem a amamentação prolongada e em locais públicos decidiram realizar o “mamaço” nesta quinta, com direito a filme e histórias para as crianças no próprio Itaú Cultural. “No nosso país, há uma cultura do corpo feminino como objeto, por isso as pessoas veem um seio exposto com vulgaridade, uma questão simplesmente moralista e machista”, reclama Marina, que diz ser alvo de olhares repreendedores quando amamenta Francisco ou Antonio, de dois anos e quatro meses, no metrô, por exemplo.

Algo parecido e mais constrangedor aconteceu com a jornalista Kalu Brum, autora do blog Mamíferas. Ela foi avisada pelo administrador do Facebook de que sua foto amamentado o filho seria retirada do ar por conter nudez. "Acho um absurdo que a mulher que acabou de ter filho ou que amamenta crianças maiores tenha que se enclausurar em quartos fechados ou cubículos do espaço público para não ferir a moral alheia", reclamou Kalu em seu blog. Em protesto, ela incentivou as amigas e leitoras a colocarem fotos de amamentação na rede social e a participarem do mamaço em São Paulo.

Por mais tempo - A coordenadora da ONG Matrice, composta por mães que apoiam a amamentação, Flávia Gontijo, compareceu ao evento com João Pedro, de três anos, no colo. Ela levanta outra questão vista com desconforto pela população no geral: a amamentação de crianças maiores de dois anos. “Alguns médicos divulgam que essa é a idade limite, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que é a idade mínima para o desmame, logo, ele pode acontecer até os sete anos”, explica.

Flávia conta que a filha de seis anos também é adepta do seio materno, mas não o tempo todo. “O desmame não deve ser abrupto, temos que respeitar o tempo dos nossos filhos e provocar uma despedida saudável e gradual”, diz. A coordenadora da ONG garante ainda que crianças amamentadas até mais tarde são mais dóceis, calmas e independentes. “É o vínculo de intimidade que temos com nossos filhos e isso deve ser encarado como natural”, conclui.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Violência na Atenção ao Parto

24/02/2011 - 07h49
Uma em quatro mulheres relata maus-tratos durante o parto
DE SÃO PAULO

Chorando em um hospital, agulhada pelas dores das contrações do parto, mulheres brasileiras ainda têm de ouvir maus-tratos verbais como: "Na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe. Por que tá chorando agora?". A informação é da reportagem de Laura Capriglione publicada na edição desta quinta-feira da Folha (
íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).

De acordo com o texto, uma em cada quatro mulheres que deram à luz em hospitais públicos ou privados relatou algum tipo de agressão no parto, perpretada por profissionais de saúde que deveriam acolhê-la e zelar por seu bem-estar. São agressões que vão da recusa em oferecer algum alívio para a dor e xingamentos até gritos e tratamentos grosseiros com viés discriminatório.

Os dados integram o estudo "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado", realizado em agosto de 2010 pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc e divulgado agora. A Folha obteve com exclusividade o capítulo "Violência no Parto", que pela primeira vez quantificou à escala nacional, a partir de entrevistas em 25 unidades da Federação e em 176 municípios, a incidência dos maus-tratos contra parturientes.

Editoria de Arte/Folhapress



Fonte: Folha.com -
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/880316-uma-em-quatro-mulheres-relata-maus-tratos-durante-o-parto.shtml

Pesquisa Mulheres brasileiras nos espaços público e privado 2010

A pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, por meio de seu Núcleo de Opinião Pública, e em parceria com o SESC, apresenta a evolução do pensamento e do papel das mulheres brasileiras na sociedade. Entre os temas abordados no estudo estão: Percepção de Ser Mulher:;Feminismo e Machismo; Divisão Sexual do Trabalho e Tempo Livre; Corpo, Mídia e Sexualidade; Saúde Reprodutiva e Aborto; Violência Doméstica e Democracia, Mulher e Política.

A introdução do recorte de gênero é a grande inovação deste estudo que desta vez ouviu mulheres e homens sobre a situação da mulher brasileira. Os resultados podem ser comparados aos do estudo realizado pela FPA em 2001. Essa comparação aponta melhorias na situação da mulher, mas também comprova que há um longo caminho a percorrer na valorização e na inserção da mulher na sociedade.
A pesquisa foi realizada em agosto de 2010 e ouviu a opinião de 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 unidades da federação, cobrindo as áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. O levantamento envolve a inclusão de 176 municípios na amostra feminina e 104 na masculina. A margem de erro da pesquisa é entre 2 e 4 pontos percentuais para mulheres e entre 3 e 4 pontos para os homens, em ambos o intervalo de confiança é de 95%.

Entre os temas abordados, a violência é o que chama mais atenção na comparação com a pesquisa anterior. Com relação à violência doméstica, em 2001, foram 12 modalidades abordadas; em 2010, foram 20. O tema Aborto foi mais aprofundado, entre os dados, estão os motivos que levaram muitas mulheres a terem abortado, como a falta de condições econômicas para ter um (ou mais de um) filho e a falta de uma relação estável e apoio do homem de quem engravidaram.

Seminários e livro

A pesquisa será divulgada por meio de seminários presenciais e da publicação de livro com análises sobre dos resultados. Estão programados 10 seminários a serem realizados em dez capitais, contemplando todas as regiões brasileiras, entre os meses de abril e junho. O livro apresentará um extrato dos resultados e análises de especialistas, seguindo sistemática adotada nas demais pesquisas realizadas pela FPA - Juventude, Racismo, Homofobia e Mulheres. A FPA e o SESC estimam que a publicação seja viabilizada em 2011.

Fonte: Fundação Perseu Abramo -
http://www.fpa.org.br/o-que-fazemos/pesquisas-de-opiniao-publica/pesquisas-realizadas/pesquisa-mulheres-brasileiras-nos-es

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Violência em maternidades revela problemas na saúde pública

Por Rafaela Carvalho - rafaela.souza.carvalho@usp.br

Uma pesquisa apresentada à Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) revela que grávidas em trabalho de parto sofrem diversos maus tratos e desrespeitos por parte dos profissionais de saúde nas maternidades públicas. Segundo a análise, esse tipo de violência, além de apontar para os problemas estruturais da saúde pública, revela a “erosão” da qualidade ética das interações entre profissionais e pacientes, a banalização do sofrimento e uma cultura institucional marcada por estereótipos de classe e gênero.

Autora do trabalho, a psicóloga Janaína Marques de Aguiar explica que essa violência acontece de diversas formas: negligência na assistência, discriminação social e racial, gritos, ameaças, repreensão, piadas jocosas, a não permissão de um acompanhante à escolha da paciente – direito que é garantido por lei – e até mesmo a não utilização de medicação para alívio da dor, quando for tecnicamente indicada. Muitas vezes, esse tipo de violência acontece quando as pacientes manifestam o seu sofrimento. “Elas já chegam ao atendimento público alertadas por mães, irmãs ou vizinhas que quem grita sofre mais: é deixada para ser atendida por último ou é maltratada.”

Para a realização desse trabalho, a psicóloga entrevistou 21 mulheres que estavam no período de até três meses após o parto em três Unidades Básicas de Saúde (UBS) de São Paulo, além de 18 profissionais da saúde pública. A partir das entrevistas, Janaína constatou que a violência institucional é banalizada e, portanto, invisibilizada por grande parte dos profissionais, que nem sempre identificam esses desrespeitos e maus tratos como uma forma de violência. “Muitas vezes, essas atitudes são vistas como uma brincadeira ou como uma tentativa do médico de fazer com que a paciente o escute.” A pesquisadora relata que é frequente o uso de ameaças para que a paciente não grite e não faça escândalo. “São comuns frases do tipo: ‘Está chorando/gritando por quê? Na hora de fazer não chorou/gritou.’ Esse jargão é bastante comum e aponta para a crença, ainda frequente nos dias de hoje, de que a dor do parto é o preço a ser pago pelo prazer sexual”, diz a pesquisadora.

Além disso, muitos dos profissionais entrevistados ressaltam a falta de anestesistas de plantão para analgesias de parto normal. A situação também é um flagrante da precariedade do sistema e de uma cultura institucional que ainda negligencia a humanização da assistência.

O outro como objeto

Janaína ressalta que a violência acontece porque o outro é tomado como um objeto de intervenção e não como um sujeito. “A complexidade desse tema envolve desde a precarização do sistema público de saúde até a própria formação dos profissionais, que muitas vezes não é voltada para uma humanização da assistência”, explica.

Como pano de fundo da violência institucional está a ruptura na comunicação, no diálogo entre profissionais e pacientes. Omitir informações, não informar sobre os procedimentos realizados, não negociar com a paciente a realização desses procedimentos, viola os seus direitos e nega sua autonomia. Isso pode gerar maior estresse para a mulher que está sendo atendida, dificultando uma comunicação eficaz.

Janaína ressalta ainda que mesmo em um contexto de dificuldades estruturais, com falta de recursos humanos e materiais, com alta demanda de atendimentos em pouco tempo, muitos profissionais conseguem dar uma assistência humanizada para suas pacientes. “Há, portanto, possibilidades de uma assistência sem violência. Mas é preciso reconhecer que essa violência existe, saber como e por que ela acontece para que se possa combatê-la.”

A tese de doutorado Violência institucional em maternidades públicas: hostilidade ao invés de acolhimento como uma questão de gênero, financiada por bolsa Fapesp, foi apresentada ao Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e orientada pela professora Ana Flavia Pires Lucas D’Oliveira.

Mais informações: email jamaragui@usp.br

Fonte:
http://www.usp.br/agen/?p=36706

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Não basta ser pai...

Jornal do Brasil, 09/08/09
Mirian Goldenberg

Recentemente, escrevi um artigo em que perguntava: É possível uma efetiva igualdade entre os sexos se a mulher detém, quase exclusivamente, o direito e o dever de cuidar dos filhos? Recebi dezenas de e-mails de homens e mulheres. Todos os homens escreveram para apoiar veementemente o meu argumento. No entanto, algumas mulheres discordaram, alegando que, em função da extrema importância do aleitamento materno, é uma obrigação exclusiva da mãe cuidar do bebê, pelo menos nos seus primeiros meses de vida.

Escrevi o texto após a Comissão de Direitos Humanos do Senado ter aprovado,por unanimidade, o projeto que aumenta de quatro para seis meses o período da licença-maternidade. Aplaudi a aprovação do projeto e a valorização da maternidade. Mas perguntei: não está também na hora de respeitar o homem brasileiro, ou melhor, a paternidade? Aparentemente não, pois um outro projeto defende o aumento da licença-paternidade de cinco para quinze dias, com o objetivo de que os pais possam "ajudar" as mães nos primeiros dias de vida do bebê. Pensei em uma realidade oposta, como a da Suécia, em que a licença de mais de um ano para cuidar do recém-nascido é para ambos os pais. O casal pode decidir quem ficará sem trabalhar para cuidar do bebê: o pai ou a mãe. A proposta visa a estimular os homens a assumir um papel ativo na criação dos filhos e a propiciar uma divisão mais igualitária das tarefas domésticas.

Todos sabem que os meses iniciais são fundamentais para assegurar a adaptação do bebê ao mundo, o que significa que cuidar de um recém-nascido é muito mais do que apenas garantir o aleitamento materno. Esse tempo é necessário para estabelecer o vínculo afetivo com a criança, indispensável para o seu desenvolvimento emocional e social. Cinco (ou quinze) dias são suficientes para que o pai participe da formação emocional e social da criança, enquanto a mãe deve dedicar seis meses exclusivamente a essa tarefa?

É possível pensar em uma efetiva igualdade entre os sexos quando a mulher detém o direito e o dever de cuidar dos filhos? Esse cuidado não pode (e deve) ser igualmente compartilhado pelos homens? É verdade que muitos homens recusam ou duvidam da própria competência para o exercício da paternidade. Contudo é fácil constatar, inclusive com a notável discrepância entre os dois projetos, que aqueles que querem exercer plenamente a paternidade estão impedidos de cuidar de seus filhos, já que as mulheres são percebidas como as legítimas detentoras do saber e do poder nesse âmbito. Elas são consideradas as únicas realmente necessárias no momento inicial da vida, cabendo ao pai, quando muito, a função de "ajudar" a mãe.

Limitados a um papel secundário ou terciário (quando o bebê é cuidado pela avó, babá ou empregada doméstica), são ainda acusados de imaturos, ausentes, irresponsáveis, incompetentes e inadequados como pais. Muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não querem compartilhar e percebem os homens como meros coadjuvantes — ou até mesmo figurantes — em um palco em que a principal estrela é a mãe. Não é possível questionar a suposta superioridade feminina no domínio privado sem enfrentar uma forte reação das mulheres, inclusive de muitas que lutam pela completa igualdade entre os gêneros. Mas não seria exatamente nesse terreno, completamente dominado pelas mulheres, que se enraizaria a mais profunda desigualdade entre os sexos?

É muito difícil transformar uma realidade social quando ela é vista como da ordem da natureza, natureza que é usada para justificar o papel privilegiado da mãe e para marginalizar ou excluir o pai dos cuidados com o recém-nascido. No entanto, não existe absolutamente nada na "natureza" masculina que impeça um pai de cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu bebê, assim como não há uma "natureza" feminina que dê à mãe a autoridade de se afirmar como a única capaz de cuidar do recém-nascido. Os cinco (ou quinze) dias de licença-paternidade e os seis meses de licença-maternidade revelam a enorme desigualdade de gênero em nosso país.

Consolida-se, com esse abismo, o monopólio feminino dos prazeres, encargos e sacrifícios com os filhos. Reforça-se, também, a falta de respeito e de reconhecimento da importância do exercício da função paterna. Sem desmerecer a conquista das mulheres, muito pelo contrário, é mais do que necessário denunciar a injustiça e a discriminação que sofrem aqueles que querem exercer plenamente a paternidade.

Se as crianças de hoje aprenderem que o pai e a mãe podem ser igualmente disponíveis, atenciosos, responsáveis, protetores, presentes e amorosos, é possível que, em um futuro próximo, tenhamos uma verdadeira igualdade entre homens e mulheres, e a crença de que em nenhum domínio (público ou privado) um é superior ou mais necessário do que o outro.

Fonte: http://www.miriangoldenberg.com.br/